Por Redação MNDN | João Pessoa (PB), novembro de 2025
O Movimento Nacional das Doenças Negligenciadas (MNDN-Brasil) iniciou sua participação no 60º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (MEDTROP 2025) já na cerimônia de abertura, ao lado de autoridades intelectuais, políticas e sanitárias do Brasil e da América Latina.
A presença do Movimento simbolizou o compromisso com a construção de um Brasil Saudável e com o fortalecimento do Comitê Interministerial para Eliminação da Tuberculose e Outras Doenças Determinadas Socialmente (CIEDDS) espaço que articula nove ministérios para enfrentar as enfermidades que mais atingem populações vulneráveis.
Durante a abertura, o MNDN reafirmou sua missão de unir ciência, comunidade e gestão pública, contribuindo com propostas que ligam o enfrentamento das doenças negligenciadas às políticas ambientais, de saneamento, educação e moradia, destacando que a saúde nasce dos territórios e depende da integração entre diferentes setores do Estado e da sociedade.

Mais do que uma presença institucional, a participação do Movimento reafirmou o valor do empoderamento popular o reconhecimento de que a transformação social começa quando o povo compreende sua própria força, constrói consciência crítica, sociopolítica e contundente, e participa das decisões públicas.
O MNDN atua para fortalecer essa consciência coletiva, que enxerga as raízes estruturais das doenças e desafia as práticas que perpetuam a exclusão e a negligência.
💬 Fórum Social e Mesa “Avanços e Desafios”
A programação do congresso também incluiu o Fórum Social Brasileiro de Enfrentamento das Doenças Infecciosas e Negligenciadas, que em 2025 completou 10 anos de história.
A leitura da 10ª Carta do Fórum, durante a abertura do MEDTROP, reafirmou uma década de lutas e conquistas coletivas que transformaram a forma de pensar as políticas públicas de saúde no país.

O presidente do MNDN, João Victor Pacheco Fos Kersul de Carvalho, participou da mesa “Avanços e Desafios – 10 anos do Fórum Social Brasileiro de Enfrentamento das Doenças Infecciosas”, ao lado da Dra. Mariângela Simão, Secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, e de Polyane Medeiros, integrante do Movimento Nacional das Doenças Negligenciadas (MNDN), em um debate mediado pela pesquisadora Eloan Pinheiro (Fiocruz).

Durante sua fala, Polyane Medeiros abordou os avanços e desafios das políticas públicas de saúde, destacando a importância de fortalecer o SUS, ampliar a vigilância territorial e garantir a presença das comunidades nos espaços de decisão.
“Apresentamos o conceito de A Contundência a força que nasce do equilíbrio entre ver, sentir e agir.
A Contundência é a presença firme de quem conduz com consciência, e não apenas com palavras.
É o movimento que transforma o olhar em atitude e a consciência em ação”, destacou João Victor durante sua fala.
A mesa reforçou que o enfrentamento das doenças negligenciadas não se faz apenas com tecnologia e medicamentos, mas com participação social, voluntariado e fortalecimento do SUS pilares que garantem que as decisões em saúde pública sejam construídas de forma democrática, com o povo sendo parte ativa do processo.

O MNDN, desde sua fundação, atua com base no controle social previsto na Constituição Federal, que assegura o direito da população de participar da formulação, execução e fiscalização das políticas públicas.
Esse trabalho voluntário feito por lideranças, moradores e profissionais de diferentes áreas é o que sustenta a luta cotidiana: o esforço da comunidade que, mesmo sem recursos, se organiza para dizer “não está bom” e, ao mesmo tempo, apresentar propostas propositivas e transformadoras.
A força do Movimento nasce desse gesto coletivo do empoderamento que desperta consciência e transforma indignação em proposta.
Cada liderança que se levanta, cada comunidade que fala, cada território que se reconhece como sujeito de direito é uma semente de mudança.

🧭 Oficina “Uma Só Saúde” e o olhar integrado sobre o futuro
O MNDN também participou da Oficina “Uma Só Saúde”, realizada no dia 2 de novembro, sob coordenação da Associação Brasileira de Saúde Única (ABRASUN) e do Conselho Nacional de Saúde (CNS).
O encontro reuniu especialistas, lideranças populares e representantes institucionais para debater a integração entre saúde humana, animal e ambiental, diante dos desafios das mudanças climáticas e das desigualdades sociais.
A proposta reforça o princípio de que não há saúde humana sem um ambiente equilibrado e de que o cuidado precisa ser compreendido como responsabilidade coletiva.
Nesse espaço, o Movimento defendeu que o fortalecimento do SUS passa também pela valorização da atenção primária e comunitária, pela escuta ativa das populações afetadas e pela descentralização das políticas públicas garantindo que o cuidado chegue às periferias, áreas rurais e povos tradicionais.
Essa é também uma dimensão do empoderamento social: reconhecer que os próprios territórios têm conhecimento e legitimidade para propor caminhos, corrigir rumos e fiscalizar as ações do Estado.

🏛️ Seminário Brasil Saudável e o papel da sociedade civil
O MNDN também esteve presente no Seminário Brasil Saudável, organizado pelo Ministério da Saúde e pela Rede TB, que consolidou o compromisso do governo federal em eliminar ou reduzir 14 doenças e infecções que afetam populações vulneráveis.
O Movimento contribuiu com a perspectiva dos territórios e das comunidades, defendendo o fortalecimento do controle social, o investimento em saneamento básico e a formação cidadã como ferramentas centrais para a promoção da saúde.
Durante todo o MEDTROP, o Movimento manteve um stand interativo, com materiais educativos, entrevistas e produções audiovisuais que deram visibilidade às lideranças locais e às experiências exitosas de mobilização social em diversas regiões do país.
Essas ações reforçaram a dimensão educadora e conscientizadora do Movimento porque empoderar é também ensinar a ler a realidade com olhos críticos e coração coletivo.

📊 As doenças que continuam sendo “invisíveis”
De acordo com o Censo Demográfico de 2022, mais de 49 milhões de brasileiros ainda vivem sem coleta de esgoto, 18 milhões não têm acesso à coleta de lixo e 28,9 milhões vivem em áreas sem abastecimento regular de água — condições que perpetuam o ciclo das doenças negligenciadas.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil concentra mais de 90% dos casos de hanseníase das Américas e ainda enfrenta altos índices de leishmaniose, doença de Chagas, esquistossomose e dengue.
A hanseníase, por exemplo, registrou mais de 17 mil novos casos apenas em 2023, revelando que o desafio vai além da biologia — é social, econômico e político.
Em entrevista ao Nexo Jornal, João Victor Kersul destacou que as doenças negligenciadas “não são apenas problemas de saúde, mas expressões das desigualdades históricas do país”.
Ele reforça que combater essas enfermidades exige “investimento contínuo, controle social e uma política que escute os territórios”.
🤝 Protagonismo popular, SUS e continuidade da luta
O Sistema Único de Saúde (SUS) foi lembrado em diversas falas como a maior política pública de inclusão social do Brasil — uma conquista que precisa ser defendida e ampliada.
O MNDN defende que fortalecer o SUS é fortalecer o pacto social que garante o direito à vida com dignidade, com acesso universal, integral e equitativo.
Com presença em diversos territórios do país, o MNDN tem se consolidado como observatório cidadão e rede de apoio às políticas públicas, articulando lideranças, universidades, associações e ministérios em torno de um projeto coletivo de saúde e justiça social.
E é justamente no chão dos territórios, nas comunidades e periferias, que nasce a força de quem propõe, resiste e constrói.
“A comunidade é a única que tem a capacidade de traduzir a realidade da comunidade para o governo federal”, afirmou João Victor.
“É dessa escuta que surge a verdadeira política pública.”
A atuação no MEDTROP 2025, no Fórum Social e no Seminário Brasil Saudável reafirma a missão do Movimento: dar visibilidade às vozes que historicamente foram silenciadas, unindo ciência e comunidade em defesa da vida.
“Seguimos firmes, com serenidade, consciência crítica e propósito porque é disso que nasce a verdadeira transformação”, conclui João Victor.

✍️ A Política Propositiva — poema de João Victor Pacheco Fos Kersul de Carvalho
É a política que tem a organização administrativa,
que com o tempo se tornou
uma ideia propositiva.A ciência de um governo e estado,
relativo à proposição,
pensada para os cidadãos,
que se refere aos habitantes da cidade,
que vive uma realidade propositiva,
proporcional àquilo que o estado dita,
intriga e se faz de despercebida.Onde doenças estão propositalmente crescidas,
quase incapazes de ser interrompidas.É proporcional à compra do sofrimento,
à vida de quem sofre,
entra em negociação
desproporcional à dívida de quem vende.Estamos presos
sem algemas,
amarrados na dívida de quem negociou.Não temos culpa.
A negligência não é nossa.
A dívida não é minha.
A nossa realidade, sim,
é culpa da política propositiva,
da austeridade que finge que é amiga,
da política que se faz de estado,
o estado que morre
na mão dos engravatados.Tudo fica em uma dispensa,
na gaveta da inocência.É a política propositiva.
A sensação de estar no mundo das maravilhas…
só quem vê de fora:
quem joga bola,
quem faz novela.Ainda somos chamados de atores.
Eu não faço novela.
E nem jogo bola.Mas acontece um grande bate-bola:
Bate-bola com o esgoto,
bate-bola com o lixo,
bate-bola com a água ruim,
bate-bola com o trabalhador,
bate-bola com a nossa dor.Eu não sou ator.
Eu sou a própria realidade.
Sou o trabalhador,
sou o meu bairro,
sou a minha cidade,
sou o meu estado,
eu sou o meu país.Somos dignos de ter uma saúde completa.
Isso sim é um atleta,
dibrando as fragilidades,
dibrando as desigualdades.Mas isso não nos faz um jogador…
mas sim um vencedor.Vencedor do sofrimento,
vencedor do adoecimento.O sofrimento não se compra.
O sofrimento resignifica.Isso é uma ideia propositiva.

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📌 Saiba mais:
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