No Dia Mundial do Meio Ambiente, proteger a natureza é também proteger vidas
Por Redação do MNDN – 5 de junho de 2025
Neste 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, o Movimento Nacional das Doenças Negligenciadas (MNDN) se junta ao alerta global: a destruição ambiental está diretamente ligada ao adoecimento de populações inteiras, principalmente as mais vulneráveis. Em tempos de crise climática, aumento da desigualdade e colapso sanitário em muitas regiões, é preciso fazer a conexão entre meio ambiente, saúde pública e justiça social.
Este ano, a Organização das Nações Unidas (ONU) dedicou a data à luta contra a poluição plástica, e os números são alarmantes: de acordo com a Agência Brasil, o mundo deve consumir cerca de 516 milhões de toneladas de plástico em 2025. Microplásticos já foram detectados em alimentos, na água, no ar e até no sangue humano — inclusive em gestantes, afetando diretamente as futuras gerações.
Mas os riscos não estão apenas nos oceanos distantes ou em florestas tropicais; eles estão também nas periferias urbanas, nos bairros sem coleta de lixo, nas comunidades sem água tratada ou saneamento básico, onde as Doenças Tropicais Negligenciadas (DTNs) seguem fazendo vítimas em silêncio.

🌍 A crise ambiental e a face invisível da doença
As DTNs são doenças que afetam cerca de 1 bilhão de pessoas no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, o Ministério da Saúde estima que cerca de 28 milhões de pessoas são ameaçadas anualmente por essas enfermidades, causadas por vírus, bactérias, protozoários e vermes que prosperam em ambientes degradados e sem infraestrutura básica.
Doenças como:
- Leishmaniose (visceral e tegumentar);
- Doença de Chagas;
- Esquistossomose;
- Hanseníase;
- Geo-helmintíases;
- Filariose linfática;
continuam presentes nas áreas mais pobres do país, com destaque para os interiores do Norte e Nordeste, zonas de mata ciliar e comunidades ribeirinhas.

🏚️ O Brasil invisível: os números da negligência
Os dados do Censo de 2022 mostram um retrato social que ajuda a explicar por que as DTNs persistem:
- 🔸 49 milhões de brasileiros vivem sem esgoto adequado;
- 🔸 18 milhões não têm coleta de lixo regular;
- 🔸 6 milhões vivem sem abastecimento de água potável;
- 🔸 1,2 milhão de lares não têm banheiro ou vaso sanitário.
Sem água, sem saneamento, sem lixo recolhido e com esgoto a céu aberto, essas comunidades são ambientes ideais para a proliferação de vetores como mosquitos, caramujos e insetos transmissores de doenças. E ainda assim, esses territórios seguem negligenciados nas políticas públicas.
🐛 Quando o desequilíbrio ambiental vira epidemia
O desmatamento, a urbanização desenfreada, a contaminação de solos e rios por agrotóxicos, a mudança no uso do solo para a agropecuária, tudo isso desestabiliza os ecossistemas. Animais silvestres perdem seus habitats naturais, migram para regiões urbanas, e com eles vêm também os vetores de doenças — como o Lutzomyia, transmissor da leishmaniose.
É a chamada emergência sanitária ambiental, uma das maiores ameaças à saúde coletiva nos países em desenvolvimento.

💚 O papel do MNDN: resistência, articulação e transformação
O MNDN – Movimento Nacional das Doenças Negligenciadas nasceu da urgência de dar visibilidade a esse cenário e atuar junto às populações historicamente excluídas. Trabalhando em rede com outras organizações, o MNDN articula ações de base, políticas públicas e formação social.
Dentre as principais ações destacam-se:
- 🟢 Participação no Programa Brasil Saudável, criado por decreto presidencial (nº 11.908/2024), focado na eliminação das DTNs no país, com metas vinculadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS);
- 🟢 Capacitação de lideranças populares em cidades como Fortaleza (CE), São Luís (MA) e Santarém (PA), com foco em advocacy, vigilância em saúde e protagonismo social;
- 🟢 Campanhas como o Janeiro Roxo, focadas na hanseníase, e atividades permanentes em escolas, comunidades e universidades;
- 🟢 Participação em conselhos de saúde, conferências e frentes parlamentares, sempre lutando para incluir as DTNs nas agendas prioritárias dos governos municipais, estaduais e federal.
📣 “Ainda temos altos índices de doenças ligadas à pobreza”
Em entrevista ao Nexo Jornal, João Victor Kersul, Representante nacional do MNDN, afirmou:
“Muitas vezes, quem vive em áreas sem água encanada, sem esgoto ou com lixo acumulado nem sabe que está exposto a uma DTN. […] O combate às doenças tropicais negligenciadas exige não só políticas de saúde, mas de moradia, saneamento, educação e justiça ambiental.”
Kersul destaca o papel das organizações da sociedade civil como agentes de transformação social e vigilância democrática, ocupando os espaços onde o Estado ainda falha em chegar.
♻️ Cidadania ambiental: os 3Rs e a luta por justiça climática
No campo da atuação individual, o MNDN reforça o compromisso com a agenda dos 3Rs:
- Reduzir o consumo de produtos descartáveis, especialmente plásticos;
- Reutilizar materiais e dar novo uso ao que seria descartado;
- Reciclar sempre que possível, contribuindo para a economia circular.
Mas a organização alerta: ações individuais são importantes, mas precisam estar acompanhadas de políticas públicas efetivas, que garantam serviços essenciais a toda população.

✊🏽🌎 Sem justiça ambiental, não há saúde coletiva
O Dia Mundial do Meio Ambiente não pode ser apenas uma data simbólica. É um chamado para repensarmos nosso modelo de desenvolvimento, consumo e cuidado com a vida — humana e não humana.
O MNDN segue em marcha, unindo vozes, lutando por visibilidade, organizando ações de base e cobrando do Estado aquilo que é seu dever: assegurar o direito à saúde, à água, à terra, à moradia e ao ambiente equilibrado.
Porque não existe saúde pública sem justiça social. E não existe justiça social sem justiça ambiental.
🌐 Saúde Única: um só planeta, uma só saúde
Em tempos de crise sanitária, colapso climático e avanço de epidemias com origem zoonótica, a abordagem da Saúde Única (One Health) ganha ainda mais relevância. Este conceito reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e Organização Mundial da Saúde Animal (WOAH) afirma que:
A saúde humana, animal e ambiental estão profundamente conectadas.
Não é possível proteger as pessoas sem também proteger os ecossistemas e os animais. Muitos dos vetores das doenças negligenciadas, como mosquitos, caramujos e mamíferos silvestres, circulam justamente em regiões onde houve desequilíbrio ambiental provocado por ação humana.
A leishmaniose, por exemplo, passou a ser cada vez mais urbana não por uma “evolução natural” da doença, mas por deslocamentos forçados de animais hospedeiros devido ao desmatamento, queimadas e expansão desordenada de cidades.
A Doença de Chagas, historicamente associada a casas de pau-a-pique, também já foi relacionada a surtos originados a partir do manejo inadequado de alimentos e contato com vetores silvestres desabrigados.
Cuidar da floresta, do solo, da água e dos animais silvestres é, também, uma estratégia de saúde pública.

🧩 Intersetorialidade: não é só com o Ministério da Saúde
Ao falar de DTNs, ainda existe o risco de tratar o tema como algo exclusivamente da Saúde. Mas, como tem defendido o MNDN, o combate às doenças negligenciadas deve ser um esforço intersetorial.
Isso significa envolver diversas pastas e estruturas de governo e sociedade:
- 🏘️ Ministério das Cidades e secretarias de habitação, para garantir moradias dignas;
- 💧 Ministério das Cidades e da Integração Regional, para universalização do saneamento básico;
- 🌾 Ministério do Meio Ambiente e Agricultura, para o combate ao uso abusivo de agrotóxicos e à degradação florestal;
- 📚 Ministério da Educação, para levar informação em saúde para escolas e comunidades;
- ⚖️ Ministério da Justiça e Direitos Humanos, para tratar saúde como parte dos direitos fundamentais;
- 🧑🏽🌾 Movimentos populares, ONGs e conselhos de saúde, que levam as pautas do território para o centro do debate nacional.
A atuação do MNDN parte exatamente desse princípio: não é possível resolver a complexidade das DTNs com ações isoladas. A solução precisa ser transversal, democrática, participativa e baseada em evidências, com escuta ativa das comunidades afetadas.
🤝 O MNDN como elo entre as margens e o centro do poder
Por isso, o MNDN atua em diversas frentes:
- Participa do coletivo Brasil Saudável, que reúne organizações da sociedade civil e órgãos públicos numa agenda comum de enfrentamento às DTNs com base na intersetorialidade;
- Está presente em espaços como conselhos de saúde, conferências nacionais, reuniões técnicas e espaços parlamentares, contribuindo com propostas que nascem dos territórios;
- Desenvolve formações interdisciplinares em cidades como Fortaleza, Santarém, São Luís e Recife, unindo profissionais da saúde, educação, assistência social, direito e meio ambiente;
- Defende um Sistema Único de Saúde (SUS) fortalecido, interligado a outras políticas públicas e aberto à participação popular.

🧭 Para onde queremos ir?
Não se trata apenas de combater doenças. O MNDN está engajado em algo maior: a transformação estrutural de um país profundamente desigual, onde o acesso à água, à terra, à comida sem veneno, à moradia digna e ao meio ambiente saudável ainda é privilégio de poucos.
O caminho para eliminar as DTNs passa por uma nova lógica de desenvolvimento, que respeite a natureza, escute os povos originários e ribeirinhos, proteja as florestas, democratize o acesso à cidade e trate a saúde como um bem comum.
✊🏽🌎 uma nova consciência para um novo país
O Dia Mundial do Meio Ambiente não pode ser apenas um lembrete verde no calendário. Ele precisa ser um grito coletivo: o planeta está doente — e essa doença se manifesta nos corpos das populações mais vulneráveis.
Cuidar da natureza é cuidar das pessoas. E cuidar das pessoas é tarefa coletiva, que exige articulação, coragem política, escuta social e ação intersetorial.
O MNDN reafirma sua luta: por um Brasil sem doenças negligenciadas, sem saneamento precário, sem desmatamento, sem desigualdade.
Não temos um planeta reserva. E tampouco um corpo reserva. A hora de agir é agora.
🌍 Enquanto houver desequilíbrio entre nós e a natureza, haverá negligência em forma de doença.” – Movimento Nacional das Doenças Negligenciadas

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