O Movimento Nacional das Doenças Negligenciadas (MNDN), integrante ativo do coletivo Brasil Saudável, está diretamente envolvido na construção dessa estratégia nacional em diversos territórios do país, incluindo Mato Grosso. Trata-se de uma iniciativa histórica que articula diferentes setores do governo federal e da sociedade civil com o objetivo de eliminar até 2030 doenças determinadas socialmente, que continuam a atingir majoritariamente as populações em situação de vulnerabilidade.
Entre as doenças priorizadas estão: hanseníase, tuberculose, malária, leishmaniose, esquistossomose, hepatites virais, doença de Chagas, sífilis e HIV em gestantes e crianças. Mas a proposta do Brasil Saudável vai muito além de ações médicas e hospitalares. O que está em jogo é a superação das desigualdades históricas que produzem essas doenças.

Sair da bolha da saúde: um chamado para o Brasil inteiro

A meta de eliminação até 2030 só será possível se sairmos da bolha da saúde. Isso significa reconhecer que essas doenças são fruto da pobreza, do racismo estrutural, do abandono de territórios, da falta de saneamento, da fome, da violência, da ausência do Estado em comunidades inteiras.
Por isso, o Brasil Saudável é uma política interministerial, coordenada pelo Ministério da Saúde, mas que inclui também os Ministérios da Educação, Direitos Humanos, Igualdade Racial, Desenvolvimento Social, Povos Indígenas, Meio Ambiente, Justiça, Mulheres, Juventude e Cidades.
Esse esforço exige mobilização de movimentos sociais, universidades, trabalhadores do SUS, coletivos urbanos e rurais, lideranças indígenas, quilombolas, ribeirinhas, da população em situação de rua, pessoas com deficiência, juventudes e periferias.
Determinantes sociais: o que nos adoece?

Doenças negligenciadas não surgem do nada — elas são consequência direta da falta de direitos. O Censo Demográfico 2022 escancara a desigualdade:
Situação | Brasil | Mato Grosso |
---|---|---|
Sem coleta de esgoto | 49 milhões | Cerca de 1,2 milhão |
Sem coleta de lixo | 18 milhões | Mais de 300 mil |
Sem abastecimento de água | 6 milhões | Cerca de 180 mil |
Sem banheiro/sanitário | 1,2 milhão | Cerca de 33 mil |
Esses dados são mais que números. São vidas em risco. São territórios onde a dignidade ainda não chegou. E é por isso que precisamos planejar com os territórios, e não para eles.
Mato Grosso: retrato de um Brasil negligenciado
O que se observa em Mato Grosso é parte de uma realidade nacional. O estado reúne características de diversas regiões do país — tanto da Amazônia quanto do Cerrado, tanto do campo quanto da periferia urbana.
Hanseníase – MT é o estado com maior índice da doença na região Centro-Oeste. Foram 63.779 casos entre 1999 e 2018, representando 8,3% dos casos do Brasil.
Malária – Estudo da UFMT apontou 20.819 casos em uma década, com maior incidência em Colniza, Aripuanã, Pontes e Lacerda, Apiacás e Nova Bandeirantes.
Leishmaniose Cutânea – A expansão da pecuária em áreas de floresta está associada ao avanço da doença, ligando saúde ao modelo de uso da terra e à destruição ambiental.
Essas doenças não respeitam limites administrativos: avançam onde há vulnerabilidade. E são sinais de que precisamos mudar radicalmente o modo como o Estado atua.

Protagonismo social e compromisso com os territórios
O Movimento Nacional das Doenças Negligenciadas tem atuado lado a lado com movimentos sociais e coletivos populares no fortalecimento da participação popular. Em Mato Grosso, participamos da reunião estadual do Brasil Saudável, com escuta ativa das lideranças locais e definição de estratégias conjuntas.
Três pontos foram reforçados nas escutas:
- A urgência da garantia de direitos básicos como saúde, moradia, água, alimentação e educação;
- A importância da participação da sociedade civil nos grupos condutores e microplanejamentos;
- E a necessidade de que as pessoas que vivem os territórios sejam protagonistas das decisões.
Um novo jeito de fazer política pública
O Brasil Saudável propõe uma virada de chave: sair do modelo verticalizado e burocrático, e construir uma política enraizada, dialógica, construída com base nas realidades locais. Isso significa valorizar o saber da comunidade, fortalecer a articulação local e garantir que as ações cheguem onde são mais necessárias.
“Chega de invisibilização. O povo que vive com essas doenças é quem mais entende do assunto. A política pública precisa escutar, respeitar e agir com e para essas pessoas”, defende a coordenação do MNDN.
Seguimos juntos por um Brasil mais justo e saudável
O Movimento Nacional das Doenças Negligenciadas continuará mobilizado em todo o país, contribuindo nos espaços estaduais, regionais e nacionais do Brasil Saudável. O compromisso com a vida e a justiça social é o que nos move.
Sair da bolha da saúde é urgente.
Construir com os territórios é essencial.
Eliminar as doenças negligenciadas é possível.
Porque saúde é direito, e o cuidado é coletivo!

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